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Um ano sem o meu avô

É muito difícil descrever. Estar longe nos últimos anos de vida do meu foi aterrorizante e ao mesmo tempo, foi um bálsamo para que eu não sofresse tanto no meu dia-a-dia. Sinto falta da voz dele, de como ele sempre dizia que 'estava doido' pra falar comigo e saber como eu estava. O meu avô era teimoso demais, preocupado demais. Desde que eu me entendo por gente, ele sempre viveu para os outros. Ele viveu para se doar, muito mais do que para receber. Ele tinha um enorme prazer em dar tudo o que tinha, tudo de si, para fazer aqueles que ele amava feliz.  No dia em que embarquei para Portugal, para iniciar uma nova vida, sem data certa para voltar, eu lembro de vê-lo chorar pela primeira vez na vida. A lembrança do seu choro me acompanhou durante toda a viagem e foi a grande causadora das minhas lágrimas infinitas no voo, durante o tempo em que eu não dormi.  Eu sei que um dos maiores orgulhos da vida dele era dizer que tinha uma neta jornalista. Meu Deus, como os caixas de superm

Carta à minha avó

Oi, Vó.  É difícil perguntar isso para uma pessoa morta, mas como você está? Em outubro deste ano completaram-se 20 anos desde a sua morte. Eu vivi 14 maravilhosos anos com você. Às vezes ainda lembro do seu cheiro, de quando eu me agarrava a você quando estava frio.  Às vezes sonho que você está viva. Durante anos sonhei que você estava vivendo longe e não lembrava de ninguém. Eu queria acreditar que, numa história cinematográfica, eu iria te reencontrar mais uma vez. Que você lembraria de mim e voltaria a fazer parte da minha vida. Eu lembro das nossas conversas, tantas vezes eu desabafava com você. Você me amava demais, mas era uma pessoa tão triste. Meu coração se aperta quando eu lembro da sua história, de como foi difícil a sua vida, e de quando você me disse que eu era a melhor coisa que tinha acontecido na sua vida. Naquela época eu não tinha noção da força dessas palavras. Você tinha medo que eu não fosse feliz, que você não estivesse por perto para garantir que eu fosse feliz

 Quando o sofrimento bate à porta, o medo de perder pessoas que eu amo, eu nunca corro para outro lado, senão para a minha fé. Por vezes parece ingratidão, procurar a Deus somente quando 'precisamos', mas a verdade é que não tem melhor colo para corrermos, senão o de Deus. O Deus real, vivo e presente.  Não consigo escrever mais no momento. Estou muito angustiada e com muito medo. 

Saudosismos

       Estou fazendo terapia há 3 meses. Por vezes eu penso que a terapia é como beber água no inverno, você acha que não precisa, mas depois que bebe é que percebe que estava com sede.       Eu nunca liguei muito às terapias, no fundo eu tinha um leve medo do que poderia sair dali. Mas a pandemia veio para abalar nossas estruturas mentais de uma forma, não consigo imaginar como eu estaria sem vomitar as minhas doses de besteiras - e tenho pena da psicóloga, cada uma que ela tem que ouvir.      Estou aprendendo alemão, vou mudar de país - de novo. Viver num clima mais nórdico, frio e leve. Fico aflita quando penso no Brasil. O meu país é tão lindo, tão rico. Sinto pena do meu povo, simples, alegre, de bom coração, oprimido.       "A gente ganha pouco, mas se diverte", essa frase não podia ser mais brasileira.   Eu tenho orgulho de ter nascido nesse país, tenho pena de ver para onde caminha. Eu queria que as minhas próximas gerações vivessem como vivi na minha infância. Pés no

Palavras ao Vento

  Eu sempre me expressei muito bem na escrita, por cartas, posts, artigos... Desde que aprendi a ler e escrever, criei um prazer por isso. Produzir conteúdo, sobretudo, conteúdo de dentro pra fora. De dentro da alma para o mundo exterior. Do interior obscuro dos pensamentos e sentimentos escondidos, sempre me vinha uma caneta na mão numa folha vazia, e um vômito de palavras desordenadas, parágrafos sem sentido e principalmente, sentenças que, uma vez externadas e escritas, são esquecidas. Lembro-me das primeiras vezes que tive um computador com um Word aberto na minha frente. Era a minha ‘máquina de escrever’ digital. Nas aulas de ‘informática’ da escola, enquanto todos jogavam os jogos mais modernos da época – leia-se Mário Bros e Pack Man – eu abria um word, escrevia sem parar, e depois fechava tudo sem salvar. Palavras ao vento, era como eu chamava. Nos meus breves 11 anos de idade. Coitados dos cadernos (vazios) do meu irmão, que eram preenchidos com os meus devaneios. Outra cara

A Síndrome da Amélie

 Recentemente diagnostiquei em mim a síndrome da Amélie Poulain. Para quem nunca viu o filme, vou deixar o resumo da Wikipédia e uma análise baseada num spoiler. Ainda dá tempo de parar de ler... Amélie é uma jovem do interior que se muda para Paris e logo começa a trabalhar em um café. Num belo dia, ela encontra uma caixinha dentro de seu apartamento e decide procurar o dono. A partir daí, sua perspectiva de vida muda radicalmente. Essa mudança de perspectiva da personagem nada mais é do que tentar, ainda que de forma indesejada e não convidada, ajudar pessoas do seu convívio com assuntos que ela julga serem importantes, corretos e convenientes. E ela consegue, na maioria das vezes. E as histórias são tocantes e em sua maioria, conseguem ter um desenvolvimento a partir da interferência da Amélie. No entanto, a vida da Amélie é um verdadeiro desastre ocioso.  Ela é covarde. Como todos nós somos. Prefere focar as energias em resolver os problemas dos outros do que enfrentar os seus próp

A Dani se foi

2020 foi um ano ímpar na minha existência, e acredito que na de muitos outros. Eu nunca vivi tantos lutos, nunca chorei tanto pela morte de pessoas da minha família, amigos queridos ou conhecidos, que mesmo sem muito contato, eram pessoas maravilhosas. Descobri o meu perfil de viver o luto, constatei algo que eu já sabia, o quando a vida é efêmera . É aterrorizante imaginar a quantidade de vidas que eram importantes, faziam parte do meu dia-a-dia, e hoje, simplesmente não existem mais. Elas não existem.  Vivo atualmente em Portugal, há pouco mais de 5 anos e contando... desde o início da Pandemia, eu não consegui chorar meus lutos completamente e me despedir das pessoas que eu amava e se foram. Caixão fechado, enterros com limite de pessoas.  Há 15 dias atrás, perdi uma amiga e ex-colega de trabalho, a Dani. A Dani tinha 30 anos, era uma mulher numa alma de menina. Alegre, divertida, sempre maquilhada, cheirava muito bem. A Dani falava bem, escrevia como ninguém. Tinha uma personalidad